Regras antigas para a sobrevivência de uma moderna sociedade pandêmica.
Para onde caminha a humanidade?
Apesar de muitas pessoas acharem “quadrado” e “fora de moda” nunca estivemos tão precisados de um balizamento sobre a forma de uma convivência melhor com o outro.
Esse melhor deverá ser para mim e para o outro também.
A época é de relações sociais e profissionais que favoreçam as partes. Se possível na mesma proporção.
Estava difícil conviver. Estava cada um na sua achando ser a melhor de todas.
Estávamos em um mundo que existia de forma evidente a valorização do indivíduo em detrimento do coletivo, o que acabava reforçando a desigualdade social.
Resolvi escrever este texto porquê percebo mudanças drásticas no modo de viver da sociedade.
Não sei se serão transformações que perdurarão por muito tempo, mas precisamos nos adaptar ao que foi imposto.
Não dá para sermos o que éramos há mais de um mês atrás.
No final dos anos 80, usava em minhas aulas sobre comportamento social e profissional um texto que falava sobre a formação do jovem George Washington – que viria a ser o primeiro presidente dos Estados Unidos.
Lá dizia que sua educação foi baseada também em um conjunto de regras escritas por jesuítas franceses em 1595 – As regras da Civilidade e comportamento decente nos relacionamentos e conversação.
Em meados do século XVIII, Washington copiou à mão todas as 110 citações do documento. Isso contribuiu para que fosse um homem polido e que tivesse destaque no convívio pessoal e de sua carreira.
Mas o que regras escritas em um período tão distante teria a ver com um texto que pretende analisar o novo comportamento da humanidade diante à crise do novo coronavírus?
É até engraçado, mas tem muita coisa escrita nesse documento que serve “como uma luva” para os dias de hoje.
Vejamos sobre o que trata algumas:
- “Não exponha nada aos seus amigos que possa assustá-los”. Com a disseminação de fake news – notícias falsas – que acontecem através das mídias sociais, essa recomendação é extremamente necessária.
- “Se você tossir, espirrar, suspirar, ou bocejar, não faça isso alto, mas reservadamente; e não fale enquanto boceja, mas coloque seu lenço sobre seu rosto e vire-se de lado”. Os meios de comunicação, nos dias de hoje, não cansam de orientar a população para o protocolo para tossir, espirar e outras coisas mais em tempos de pandemia.
- “Não fale quando deveria evitar brigas”. Se fossemos contabilizar quantas amizades foram desfeitas por futebol, política e religião, deveríamos seguir à risca o enunciado.
- “Não tire suas roupas na presença dos outros, não saia dos seus aposentos meio vestido”. Em tempos do novo vírus, vários residentes de edifícios têm se deparado com a constrangedora cena de moradores se despindo nos corredores dos prédios por medo de entrarem em suas casas com roupas contaminadas.
- “Não se troque na presença dos outros nem roa suas unhas”. Quem tem o péssimo hábito de roer as unhas deve ficar atento, pois a mão é um agente de transmissão de microrganismos.
- “Não cuspa na face dos outros por estar muito próximo dele enquanto fala”; “não se apoie em ninguém”; “não se aproxime demais, mantenha ao menos uma passada de distância” e “tome cuidado para não se aproximar de nenhuma impureza” são quatro regras do que precisamos nos dias de hoje: distanciamento físico.
- “Mantenha suas unhas limpas e curtas” é um pedido que tenho escutado pouco, mas, acho extremamente importante. Todo mundo está falando em lavar as mãos, mas são poucos que estão dando ênfase aos cuidados com as unhas.
- “Não seja bajulador, nem brinque com nada que não se deva” me lembra um ditado que deveria estar em voga: menos é mais.
- “Não se mostre satisfeito com a má sorte do outro, apesar dele ser seu inimigo” é uma norma que os fatos políticos atuais só por eles dizem tudo.
- “Submeta seu julgamento aos outros com modéstia”. A cultura atual é de que todo mundo tem razão. Como dizia Descartes, “o bom senso é a coisa mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm”.
- “Não vá aonde não sabe se será bem-vindo” mostra o quanto às vezes ligações através de chamadas de vídeo são inconvenientes. Está certo que uma alternativa para a aproximação entre as pessoas é a forma virtual, mas tudo dentro de um limite.
Mas, o que temos/devemos mais?
A solidariedade tem tomado conta das pessoas. Todo mundo resolveu contribuir com o próximo. Alguns por empatia e outros em busca de simpatia.
O termo solidariedade significa o compromisso que as pessoas estabelecem umas com as outras e cada uma delas com todas. Na atualidade é expressada no fato d’eu cuidar de você e você cuidar de mim. Por isso, alguns gestos são extremamente saudáveis. Busque praticar a solidariedade. Amplie seu olhar criando um interesse pelo outro, formando uma rede. A gratidão vai funcionar como um oxigênio.
Lembre-se daqueles que estavam mais próximos antes do mundo rodopiar, mas tem aqueles outros que podem ser que estavam distantes pelo motivo que estávamos cansados de repetir: a falta de tempo.
E o tempo nunca mais será o mesmo. Se antes não estávamos conseguindo nem executar nossas tarefas, o que faremos agora que as obrigações parecem ter aumentado para todos?
Por isso, trate o seu tempo e o tempo dos outros com muito respeito.
Observe os horários para ligações e contatos. Porque agora temos a louça suja para lavar depois das refeições, roupas para colocar na lavadora e milhões de outras coisas que pareciam estar invisíveis. Procure ajustar o seu relógio ao relógio alheio.
E a tolerância? Talvez tenha que ser nosso “arroz com feijão”.
E a cordialidade? Tem que ser o ponto de partida para que realmente se estabeleça um mundo melhor.
Planeja seu dia para que tenha: horas de trabalho, horas de lazer e horas de descanso, inspirado em Robert Owen – 1771 – 1858 – que reduziu a jornada de trabalho de seus funcionários.
Para terminar, retomo às célebres Regras da Civilidade:
- “Aquilo que você reprova o outro, seja você mesmo irrepreensível, o exemplo prevalece mais que os preceitos”.
- E a 110ª regra: “trabalhe para manter viva em seu peito aquela pequena centelha de fogo celestial chamada consciência”.
Não esquecendo o ensinamento de Jesus: “ame seu próximo como a si mesmo”.
Nada tão antigo e tão moderno!
Adorei seu texto, Denise! Que o novo caminho seja mais civilizado! Tenho sentido muita falta disso: civilização.
Avisa qdo for lançar o livro. Quero estar presente.
Um gde abraço.
Maria Raquel, que momento inusitado!
O lançamento foi adiado em função da conjuntura.
Ficarei muito feliz com sua presença!
Beijos
Olá, Denise!
Parabéns pelo texto e suas reflexões. Estamos entrando numa nova era, num novo projeto de gente. Foi preciso um outro tipo de ser vivo aparecer para fazer a gente pensar na vida. Também pretendo participar do lançamento do seu livro. Abraços!
É, Márcia! Novos tempos! Estamos tendo que nos refazer. Mas, para melhor, creio eu.
Lógico que conto com seu apoio e presença no lançamento.
Fique em segurança.
Beijos