Dia 05 de julho foi instituído pela Lei Nº 20.577, de 21/12/2012, para comemoração do Dia da Gastronomia Mineira. Um momento para reflexão sobre os esforços que tem sido feitos para o resgate, sobrevivência, desenvolvimento e a divulgação da cultura alimentar de Minas Gerais.
A data escolhida é a do nascimento do professor e escritor Eduardo Frieiro, que viveu quase cem anos e dedicou uma parte de seu tempo para a redação, em 1966, do livro Feijão, Angu e Couve – ensaio sobre a comida dos mineiros.
O prazer à mesa é um dos mais cultivados de todos os prazeres. Ele está relacionado à boa comida, boa bebida, companheiros agradáveis, tempo suficiente e ao mesmo objetivo.
A comida ultrapassa a nutrição física para despertar emoções.
Os pratos da Gastronomia Mineira oferecem uma verdadeira viagem através do que convencionou-se chamar de Comfort food, uma comida que remete à nostalgia e lembranças de vivências simples e deliciosas da vida: o comer algo feito com carinho.
A cozinha mineira está atrelada à hospitalidade, já que a mesa é farta e variada.
O escritor Fernando Sabino, no trecho de seu livro A Inglesa Deslumbrada, demonstra a riqueza da culinária mineira, enumerando as seguintes preparações: “lombo de porco com rodelas de limão, tutu de feijão com torresmo, linguiça frita com farofa. De sobremesa, goiabada cascão com queijo Palmira. Depois, o cafezinho requentado com requeijão. Aceita um pão de queijo? Biscoito de polvilho? Brevidade? Ou quem sabe uma broinha de fubá?”
A formação dos hábitos alimentares dos mineiros, iniciada no final do século XVII, está atrelada ao desbravamento do interior do país na busca da mão de obra indígena e da exploração do ouro e pedras preciosas.
Os forasteiros estavam interessados somente nas riquezas minerais e o cultivo da terra era desempenhado pelo habitante local visando somente a subsistência.
Eduardo Frieiro descreve que “nos primórdios do povoamento das Minas Gerais há fartura de ouro e penúria de alimentos.”
Dessa forma foi sendo criada a cultura alimentar dos mineiros que foi condicionada à utilização da carne de porco, do milho, mandioca e feijão; aos produtos da horta, como a couve, quiabo, ora pro nobis, jiló e cheiro verde; do pomar foram extraídas as frutas para serem feitos os doces; do gado o leite para o queijo e o famoso doce de leite; dos rios os peixes e dos quintais as galinhas.
O escritor Frei Betto, filho da célebre cozinheira mineira, Maria Stella Libanio Christo, comenta que “a culinária mineira deita suas raízes na variedade da cozinha indígena, nos queijos e toucinhos vindos de Portugal e na criatividade do voraz apetite dos escravos das minas de ouro e diamante. Mineiro quando se alimenta, se acalenta.”
A cozinha servia como ponto de encontro e o fogão à lenha destinava a preparar os mais saborosos pratos doces e salgados, além de fornecer aconchego no frio.
Durante muito tempo as cozinhas regionais foram deixadas de lado em detrimento das novas experiências gastronômicas vindas com a globalização.
Só nos últimos anos, alguns poucos grupos tem buscado a valorização e divulgação do que é comido regionalmente em Minas.
A Gastronomia Regional Mineira tem ganhado destaque mundo afora.
Em 2013, foi tema do mais prestigiado evento de Gastronomia do mundo: o Madri Fusion, realizado na Espanha, e também da Feira de livros de Frankfurt, além de participação em festivais do Uruguai e Argentina.
A escola de samba vice-campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, no ano de 2015, teve como tema a comida mineira, homenageando D. Lucinha, uma das mais prestigiadas cozinheiras de Minas Gerais.
Nesse mesmo ano também foram levados pratos mineiros para serem apresentados na Feira do Livro de Paris.
Um dos mais significativos trabalhos na área de Gastronomia em Minas tem sido o estudo do mapeamento dos Territórios Gastronômicos Mineiros, coordenado pelo Chef Eduardo Avelar, inspirado por um botânico francês, Auguste de Saint-Hilaire que, em 1816, veio para o Brasil para recolher informações sobre o uso de plantas na medicina, na alimentação e na indústria.
Minas Gerais foi investigada em diversos roteiros das expedições deste botânico. Desse trabalho nasceram livros que descreviam o que ele via e recolhia como amostra.
A proposta atual é que sejam cinco áreas: Cerrado, Espinhaço, Rios, Central e Mantiqueira conhecidas a fundo, através de uma equipe multidisciplinar, sobre as questões da cultura alimentar de cada região.
O estudo do terroir mineiro serve para que alimentos extintos ou em extinção sejam recuperados, assim como os modos de prepará-los e o processo de produção seja incentivado extraindo o que há de melhor em cada localidade.
Ganham os produtores, os cozinheiros e os comensais.
Uma volta ao passado. Um resgate da tradição da culinária mineira.
E agora José?..
http://www.brasiliana.com.br/obras/viagem-as-nascentes-do-rio-sao-francisco-e-pela-provincia-de-goias-1-v
http://www.brasiliana.com.br/brasiliana/colecao/obras/5/Segunda-viagem-do-Rio-de-Janeiro-a-Minas-Gerais-e-a-Sao-Paulo-1822
http://territoriosgastronomicos.com.br/plus/
Seus artigos postados, muito atuais. Muito bom. Obrigada por compartilhar!
Alda, obrigada pelo carinho.